Neste quarto artigo da newsletter bem-estar no centro da estratégia eu e meu sócio Hugo Nisembaum falamos das razões pelas quais a grande maioria das estratégias falham ou perdem valor e do impacto de colocar as pessoas no centro da construção da estratégia.
De acordo com uma pesquisa feita em 2018 pela Bain company, o Planejamento Estratégico ainda é a metodologia mais popular entre os gestores. Ainda assim os resultados desse planejamento não respondem as expectativas.
Um estudo feito pelo MIT SLOAN indica que de 50% a 90% das estratégias desenhadas pelos líderes não funcionam.
É bastante decepcionante diante da quantidade de recursos investidas no desenho de estratégias é estimado anualmente (só nos Estados Unidos) um investimento de U$ 30 bilhões de dólares e os CEOs investem 20% de suas horas de trabalho focando na estratégia.
Existe uma confusão grande quando falamos de estratégia então vamos usar 3 definições de Stan Abraham para diferenciarmos bem Estratégia, Pensamento Estratégico e Planejamento Estratégico.
Estratégia – Como uma empresa compete e como usa suas fortalezas para se diferenciar no mercado.
Pensamento Estratégico – Desenvolver estratégias alternativas ou modelos de negócio que geram valor aos clientes. É o que alimenta o planejamento estratégico
Planejamento Estratégico – O processo pelo qual uma empresa desenvolve uma estratégia para atingir objetivos específicos.
Como normalmente acontece: Planejamento Estratégico
O grande erro está no processo, geralmente as estratégias são definidas em comitês fechados e ainda que tenhamos dados de mercado, estamos sujeitos aos vieses e limitações de visão que vem daquele grupo.
Aquele pequeno grupo define como todos que fazem parte da empresa precisam atuar e em que prazo irão executar o planejado.
O que se busca é um controle racional, a análise sistemática dos mercados e competidores, olhar pontos fracos e pontos fortes, traduzindo tudo isso em uma estratégia completa e detalhada.
Normalmente utilizamos ferramentas tradicionais como um BSC (Balanced Score Card) ou uma Matriz SWOT.
Nós particularmente somos bastante críticos da utilização exclusiva desses modelos, já que eles têm pontos cegos importantes.
BSC (Balanced Score Card) – O foco ainda é em causa e efeito, uma relação linear das coisas. Se eu fizer isto acontece, aquilo. Num mundo BANI que é Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível contar somente com uma abordagem assim limita a nossa visão. Fora isso, o aspecto pessoas dentro de um Mapa BSC tem um enfoque em encaixar os colaboradores em um processo já desenhado do que abrir espaço para que tragam suas contribuições.
SWOT – A Matriz SWOT ( Strengths – pontos fortes, Weaknesses – Pontos Fracos, Oportunities – Oportunidades – Threats – Ameaças) acaba gerando um processo comparativo com o que existe. Não necessariamente vai trazer informação sobre o que nos torna únicos. E a principal questão está relacionada a pontos fracos e ameaças, somos naturalmente inclinados a olhar mais os pontos fracos e com o grau de complexidade do mundo hoje temos mais dificuldades em mapear as ameaças. (vide pandemia ou guerra na ucrânia).
Esse desequilíbrio em olhar pontos fracos e ameaças em excesso tira a energia necessária para construir uma visão otimista realista do futuro e isso é fundamental para a realização de qualquer estratégia.
RECOMENDAÇÃO:
Antes de você reagir com o estomago e escrever um comentário efusivo, não estamos falando para você deixar de usar esses modelos se fazem sentido para sua empresa, estamos falando para não usar exclusivamente eles, porque como todo modelo, tem suas limitações.
TUDO BEM, USAMOS NOVAS METODOLOGIAS:
As novas metodologias de apoio a desenho de estratégia costumam ser menos rígidas, menos complexas e mais ágeis e até inicialmente propõem mais colaboração e uma abordagem mais centrada nas pessoas.
O ponto de atenção é o cuidado para não cometer o mesmo erro ao usar metodologias novas de forma top-down e tentar encaixar as pessoas no processo ao invés de envolvê-las ativamente na criação da estratégia.
O impacto de não envolver os outros:
Se a estratégia fica limitada somente ao grupo de diretores está mais fadada ao fracasso por duas simples razões: a primeira por acabar não captando boas ideias dos colaboradores, e a dificuldade em conectar a estratégia com a execução.
Executivos podem conhecer o negócio a fundo, mas muitas vezes não conhecem o potencial das pessoas, como colaboram, o que valorizam e como querem contribuir.
Estratégias isomórficas – Já reparou como numa mesma indústria ou setor as estratégias são parecidas? Os pesquisadores chamam isso de isomorfismo iso- igual e morfismo-forma.
Estratégias pouco criativas: É difícil ter um ambiente de troca de ideias fértil dentro da organização. Se os líderes fomentam uma cultura de competição interna as pessoas batalharão por recursos e posições sem necessariamente colocar energia e talento a serviço do que é melhor para elas, empresa e clientes. Não cooperar empobrece a qualidade da estratégia tanto no desenho como na execução.
Como deveria ser: Crafting Strategy
Esse termo foi proposto por Henry Mintzberg, o insight veio ao olhar sua esposa trabalhando. Ela é uma ceramista, ele observou como de um pedaço de argila disforme a peça ia surgindo enquanto o torno girava, a imaginação e a execução trabalhavam simultaneamente da mesma forma que acontece quando um músico improvisa ou quando um ilustrador realiza seu trabalho.
A ideia da estratégia sendo algo que surge como arte ou artesanato (craft – em inglês).
Arte de qualidade envolve dedicação, habilidade, perfeição ao dominar os detalhes.
Não implica em deixar o aspecto racional de lado, mas alinhar ele com os recursos à mão, com o que nos apaixona, com o momento de mercado e principalmente com o valor que queremos gerar.
Formulação e a implementação se juntam em um processo fluído de aprendizado através do qual estratégias criativas surgem.
Não tenha medo de abrir a estratégia:
Uma estratégia trancada a 7 chaves é uma herança da era industrial, onde as estruturas eram mais hierarquizadas, a velocidade de mudança, complexidade e volume de dados disponíveis eram menores. Inclusive o acesso à informação era menor.
Vou pegar um exemplo recente Elon Musk abriu a patente do Hyperloop (o sistema de trens de alta velocidade em um túnel de vácuo). Quem consegue executar e melhorar o projeto inicial? Quem consegue influenciar e desenhar os marcos legais, para que o sistema seja autorizado a funcionar? Conseguimos proporcionar uma experiencia incrível para nosso cliente? (muito além dos aspectos técnicos, vai desde a poltrona no trem, até a prestação de serviços).
Inclusive uma das várias concessionarias que estava desenhando o modelo encontrou problemas justamente por questões de poder, ego e centralização da estratégia.
Em um processo de strategic crafting, a ideia é tão importante quanto a execução.
Abrir a estratégia é gerar conversações com colaboradores, fornecedores e clientes sobre quem queremos ser, que desafios precisamos responder e que valor queremos gerar.
Essa transparência contribui para que as pessoas se sintam à vontade para trazer suas ideias a mesa, propor novos processos, produtos e colaborar melhor. Abrir a estratégia amplia as perspectivas e reduz vieses que normalmente acontecem em estratégias desenhadas top-down.
Imagine se a Kodak tivesse ouvido mais vozes sobre a fotografia digital, tecnologia em que eram pioneiros. Por decisões feitas no topo, muitas vezes políticas e com foco na manutenção do status quo empresas morrem.
Em 2021, a Dr. Oetker decidiu pela primeira vez utilizar uma estratégia aberta em seu segmento de negócios de cereais na Alemanha. Organizou workshops convidando colaboradores de diferentes departamentos, níveis hierárquicos e funções, assim como especialistas externos em alimentos, especialistas em tecnologia digital e start-ups. Os resultados foram espetaculares, proporcionando modelos de negócios futuros completamente novos e potenciais para a indústria de cereais.
Como colocar as pessoas no centro da estratégia:
Alinhe propósito e significado: quanto mais as pessoas encontrarem significado no que fazem a probabilidade de elas contribuírem com a estratégia seja no desenho ou na implementação aumenta. Pessoas que encontram significado no trabalho são 1.7 mais satisfeitas e 1.4 vezes mais engajados. Falei bastante de significado e como ele acelera mudanças no nosso artigo anterior.
Inclua perspectivas diferentes: Diversidade cognitiva é a inclusão de pessoas que têm estilos diferentes de solucionar problemas e podem oferecer perspectivas únicas porque pensam de maneira diferente. Por vezes a tendencia de buscar em excesso o fit cultural entre os colaboradores pode diminuir a manifestação de diversidade cognitiva.
Montar equipes multidisciplinares para desenhar e implantar novas estratégias, de forma similar com o que foi feito no caso da Dr. Oetker incluindo pessoas de diferentes backgrounds, níveis e inclusive pessoas de fora da organização é uma forma de promover diversidade cognitiva.
Neste artigo falamos muito sobre o tema. A diversidade cognitiva é o DNA da inovação.
Metodologias desenvolvidas para colocar as pessoas no centro da estratégia:
Matriz SOAR: A Matriz SOAR é um modelo estratégico que surge da Investigação apreciativa, uma abordagem que busca gerar diálogo aberto buscando fazer emergir dos participantes da organização uma visão de futuro compartilhada.
A Matriz aborda os seguintes elementos Strengths (Pontos Fortes), Oportunities (Oportunidades), Aspirations (Aspirações), Results (Resultados).
Pode ser aplicada tanto individualmente como coletivamente, nós utilizamos para gerar convergência entre os sonhos individuais e os sonhos da organização. Contribui muito para gerar uma visão otimista e realista de futuro.