Geralmente dissociamos a implantação de uma nova cultura da estratégia e das práticas existentes na empresa.
A implantação de uma nova cultura implica em uma revisão de valores e princípios e esses vão servir de norte para o desenho de estratégia e revisão/ criação de novas práticas.
A coisa mais comum quando se inicia um processo de transformação é pensar diretamente naquilo que fazemos, no que nossos concorrentes ou organizações que admiramos fazem.
Quem não ouviu falar de benchmark de melhores práticas?
Acontece que a diferenciação de um indivíduo (e as organização são feitas de pessoas) começa pelo seu modo de pensar, e isso acaba se refletindo nas práticas.
E necessariamente, para fazer diferente, as principais lideranças precisam pensar diferente e isto deve se traduzir em novas práticas.
A dimensão com que as pessoas, e em especial as lideranças, consideram os problemas e desafios e como reconhecem a sua existência depende da sua visão de mundo.
Se o que tem caracterizado a empresa é o comando e controle, as orientações tops down, se as pessoas são apenas vistas como fatores de produção, estes aspectos impactam diretamente a forma em que trabalhamos e podem não estar em compatibilidade com os princípios e valores que se quer implantar na nova cultura.
Em muitos casos, as lideranças pensam mais nas práticas, nos processos, e isto determina as ideias que prevalecem e como trabalhamos.
Porém, se o objetivo é construir uma nova cultura com base em novos princípios e valores, o foco nos processos não é suficiente.
Colocar um único processo de vanguarda em um modelo de gestão convencional geralmente é uma ação infrutífera. Pode ser tanto metodologias ágeis como gestão 4.0.
Agora se a liderança valoriza a liberdade humana e o crescimento das pessoas provavelmente abominará a desumanização que uma estrutura extremamente burocrática gera. Vai oferecer ferramentas para que as pessoas desenvolvam sua autonomia, seu potencial e que se sintam acolhidas ( pertencimento).
O foco não é na conformidade e sim na capacidade de contribuição das pessoas.
Para obter essa transformação, a empresa precisa de um novo DNA. Ajustes nos sistemas e processos existentes não produzirão melhorias significativas na eficácia organizacional. Se o objetivo é construir organizações que sejam tão capazes quanto as pessoas dentro delas, precisamos começar de novo.
Precisamos de um novo paradigma organizacional em que as pessoas não sejam vistas apenas como “recursos”. E isto implica em promover ações para que as pessoas conheçam o seu potencial e sejam convidadas a rever a autopercepção, e as maneiras de trabalhar.
O grande desafio está em buscar convergência entre os princípios individuais e os da organização e um alinhamento entre o potencial das pessoas, interesses e desafios estratégicos da organização
Um caminho da burocracia para a humanocracia:
Recentemente fomos procurados por uma indústria alimentícia para apoiá-los em um processo de transformação cultural.
Quando iniciamos o projeto o desenho de valores e cultura desejada já havia sido feito. E ficamos bastante entusiasmados pelo fato de a construção ter sido feita de forma participativa com envolvimento dos colaboradores no processo. E tiveram a coragem de colocar a palavra amor em parte de sua missão – “Produzir alimentos mais saudáveis com amor para que sua vida seja mais equilibrada”.
Outros aspectos como colaboração, sentimento de dono, e meritocracia foram incluídos.
O grande desafio de qualquer transformação cultural centrada nas pessoas é fazer com que a aspiração e valores se manifestem na nossa forma de pensar e na maneira como conduzimos nosso trabalho seja nos processos, seja nas relações (com clientes, colaboradores, fornecedores e sociedade).
Nosso trabalho foi apoiar na manifestação desta cultura em uma nova forma de trabalhar.
Em uma indústria normalmente a própria estrutura que é naturalmente mais vertical, acaba favorecendo um modelo de gestão com base no comando e controle.
Nós invertemos o processo fazendo com que a mudança começasse onde ela deve começar, pelas pessoas, de dentro para fora, alinhando autoconhecimento com seus desafios individuais e coletivos.
Outra premissa fundamental foi a transparência de dados e desafios estratégicos.
Etapa 1 - Mapear e conscientizar as pessoas de seus talentos e pontos fortes.
Etapa 2 – Com base nos desafios percebidos individualmente e pelo grupo e conscientes do potencial, revisamos as descrições de cargo e papéis de forma participativa, propondo um novo desenho que equilibrasse melhor a carga de trabalho.
Etapa 3 – Realizamos um Job Crafting com cada líder que redesenhou suas tarefas e com quais desafios se sentiam mais entusiasmados a contribuir. Fazer com que a proposta de mudança surja das pessoas aumentou o engajamento e significado das pessoas.
Etapa 4 – Team Crafting – Consolidar as mudanças propostas por cada um e definir as prioridades coletivas em função da estratégia. Esta etapa permitiu com que cada um entendesse o potencial de cada colega, como se complementam, interesses.
Etapa 5 – Forças Tarefas – O resultado da etapa anterior gerou grupos multidisciplinares, autônomos e mais horizontais que trabalharam as prioridades em um modelo colaborativo.
Uma abordagem centrada nas pessoas acelera a implantação de tecnologias, metodologias de gestão e revisão de processos:
Dar poder para que as pessoas desenhassem a mudança junto com a organização acabou fazendo com que as pessoas se apropriassem com entusiasmo e garra em iniciativas totalmente técnicas como cálculos de rentabilidade por cliente, automações, gestão de estoque.
Conclusão:
Mais importante do que dizer aos colaboradores como fazer é buscar clareza e convergência de propósito e direção.
Mais importante do que desenvolver colaboradores perfeitos é criar oportunidades alinhadas com seus pontos fortes e interesses.
Mais importante que impor a aderência das pessoas aos processos, é fazer com elas cocriem e aprimorem os processos usando sua sabedoria coletiva.
E agora um convite! No dia 19/01 faremos uma live falando sobre Job Crafting em parceria com a Líder Academy em nosso canal do youtube!