por Hugo Nisembaum
Martin Seligman, no seu primeiro livro Felicidade Autentica, dedica um espaço de destaque a entender os advogados e os efeitos que a profissão tem sobre eles e os estados emocionais resultantes da prática. Isto acabou estimulando muitos autores a estudar mais profundamente o tema.
Como estudo Psicologia Positiva já faz um bom tempo, resolvi colocar a mira nesse assunto e poder contribuir com o bem-estar de uma profissão tão importante.
A Psicologia Positiva e a Neurociência nos ajudam a entender como o cérebro humano pode mudar, e como de maneira dirigida podemos mudar gerando emoções positivas.
As emoções positivas, por sua vez, ampliam a nossa capacidade cognitiva.
Barbara Fredrickson em seus estudos sobre emoções positivas chegou à conclusão que elas contribuem para uma mente mais aberta, flexibilidade para a resolução de problemas, criatividade e finalmente ampliam e constroem em nós recursos importantes para enfrentar os desafios da vida
Por que as emoções positivas interessam para os advogados?
Por que a pesar de existirem muitos advogados felizes, segundo um estudo da John Hopkins University, entre 100 profissões pesquisadas, os advogados estão entre os que possuem um alto grau de incidência de depressão.
Como explicamos esses dados?
O que pode fazer os advogados eficazes na profissão pode ao mesmo tempo afetar outros aspectos da sua vida. As qualidades que ajudam os advogados a serem bem-sucedidos como prudência, agressividade, e pensamento crítico podem ter impactos adversos na sua vida pessoal.
Como exemplo, analisemos “prudência”. Um advogado prudente busca cobrir toda possível armadilha ou desastre que pode acontecer numa situação legal. Esta habilidade de antecipar uma gama de problemas é muito útil para os advogados já que anteveem incluso resultados improváveis e como se defender de cada um deles.
Seligman nos diz que a característica de prudência que contribui para a eficácia de um advogado não o faz necessariamente uma pessoa feliz. Principalmente por que os advogados não conseguem desligar o “botão da prudência”. Essa característica pode com frequência determinar a forma em que você pensa no mundo não ligado as leis, já que o cérebro está programado a pensar dessa forma. No mundo não ligado as leis o excesso de prudência é chamado pessimismo.
O pessimismo é uma maneira de interpretar o mundo onde o pior é rotineiramente esperado. Afeta a nossa forma de interpretar fracassos e eventos malsucedidos. Os pessimistas podem enxergar as experiencias negativas como permanentes, não controláveis e podem impactar o bem-estar deles.
Em contrapartida, o estilo de interpretação dos otimistas, e isto pode ser aprendido, enxergam os eventos negativos como específicos e mutáveis. Um evento ruim é uma circunstância passageira para um otimista.
O pessimismo na vida pessoal pode contribuir a estados de depressão. O desafio então é continuar a ser prudente na prática da lei e conter essa tendência para a vida pessoal. E aqui onde a psicologia positiva pode contribuir. Existem exercícios que podem ajudar aos advogados a desenvolver o que Seligman chama de “otimismo flexível”, ou seja, conseguir discriminar melhor as situações da sua vida pessoal.
Outra forma de pensar característica dos advogados é o “perfeccionismo” que também pode ser corrosivo na vida pessoal. Quando aplicado rigidamente, a propensão a perfeccionismo pode ser um impeditivo ao bem-estar e felicidade. Tal Ben Shahar, responsável pelo curso mais frequentado em Harvard sobre a Ciência da Felicidade, oferece um modelo que busca equilibrar a perspectiva e uma alternativa ao perfeccionismo.
É o “otimalismo”. Um otimalista acredita que o “muito bom” é a melhor opção, dadas as demandas e exigências da vida. O otimalista aprecia a vida como um todo e enxerga sucessos e fracassos como oportunidades para aprender e crescer.
Seguindo o mesmo princípio Scott Rogers da Law School of Miami estruturou uma cadeira de Mindfulness para ajudar advogados e juristas em melhorar suas percepções, processos de tomada de decisão, e a reduzir o stress.
Existe uma correlação grande entre o sucesso em uma determinada profissão e nossas capacidades naturais, o que acontece é que muitas vezes a natureza da área faz com que exercitemos só algumas capacidades e deixemos outras de lado, e isto sem dúvida afeta nosso bem-estar.
Portanto todas essas iniciativas visam construir um olhar mais integrado e equilibrado da aplicação de nossos talentos, neste artigo mencionei os advogados especificamente, mas certamente o raciocínio se aplica a outras atividades.