Neste segundo artigo falando de bem-estar no centro da estratégia vamos falar de algo que percebemos e normalmente não medimos, da energia positiva nos relacionamentos e o impacto no bem-estar e nos resultados.

Por mais abstrato que pareça existem interações que nos energizam e outras que sugam nossas energias.

Existe uma preferência natural pela busca por interações que nos energizam e evitar interações que nos desgastam.

Esta busca natural pela luz é chamada de "efeito heliotrópico", o que significa simplesmente que todo sistema vivo tem uma tendência em direção à luz e ao afastamento da escuridão, ou uma tendência de buscar o que dá vida e fugir do que ameaça a vida. Por exemplo, se você colocar uma planta perto de uma janela de frente para o sol, você logo notará que a planta começa a se inclinar para a luz.

O oposto mais similar no mundo empresarial seria o que conhecemos como entropia, ou seja, a tendencia das organizações a desordem e a morte. Quando na empresa existe uma cultura de competição excessiva, promoção de líderes tóxicos, foco nos gaps e nas ameaças estamos promovendo aquilo que queremos evitar ou seja a desordem e a morte das organizações.  

Vamos imaginar as empresas como um organismo e as relações como as artérias por onde fluem os nutrientes que mantem as empresas vivas.

Os seres humanos dependem e são inerentemente inclinados a luz e a energia positiva para prosperar. Quando o contrário acontece o sistema está doente.

Promover este princípio heliotrópico tem enormes implicações nas pessoas, equipes e organizações. Nas condições que vivemos, com o impacto psicológico do isolamento, burnout, e incertezas, a qualidade dos relacionamentos ganha ainda mais força.

Essa energia positiva dos relacionamentos é fruto de estudo e trabalho de dois acadêmicos e consultores que vale a pena seguir de perto, o 1º é Kim Cameron do Center for Positive Organizations da Michigan Business School e o 2º é Rob Cross referência no estudo de redes organizacionais e professor da Babson College.

Kim Cameron diferencia bem como a energia se manifesta no trabalho.

A 1ª forma tem relação com a ativação de potencial, ou seja, a manifestação de nossas capacidades através da energia física, emocional, mental.

O uso das 3 demandam momentos de descanso, concentração e renovação de energia.

Seja correndo uma maratona, fazendo uma prova, preparando uma palestra. Etc.

Já a 2ª forma tem relação com a estimulação energética ou o sentimento de estar vivo, manifestar entusiasmo e vitalidade.

A energia das relações ou relacional se encaixa nessa 2ª forma quanto mais acionada é, mais cresce e mais se renova.

Um exemplo disso é quando estamos com pessoas que contribuem conosco, que nos apoiam, quanto mais estreitamos o vínculo a energia gerada pelo relacionamento cresce.

O impacto no desempenho também melhora significativamente com essa energia das relações, já que as pessoas estão mais dispostas a compartilhar informação, recursos e colaborar.

O principal ponto é trazer consciência que essa energia relacional positiva não é um traço de personalidade e que ela pode ser medida, trabalhada e desenvolvida.

Quando se fala de energia relacional positiva estamos falando de quanto a troca com aquela pessoa ou grupo de pessoas nos energiza e alimenta mutuamente, todos evoluem e se realizam no processo.

Por isso é importante não confundir com influência, extroversão ou motivação.

Influência – normalmente se caracteriza como a capacidade de fazer com que outras pessoas façam ou acreditem no que você quer que elas façam.

Influência pode ser facilmente associada a competição e jogo de poder. E nem sempre faz com que as pessoas manifestem aquilo que tem de melhor.

Extroversão - Esse termo foi popularizado por Carl Jung e é uma dimensão central da teoria das personalidades. Pessoas falantes, entusiasmadas, sociáveis. E não existe necessariamente de acordo com a pesquisa de Cameron uma correlação entre energizar a rede e ser extrovertido.

Motivação Intrínseca - Pessoas intrinsecamente motivadas perseguem objetivos para atingir um senso de realização. Não necessariamente isso envolve cultivar relacionamentos e energizar os outros.

Um fenômeno social e individual:

A energia relacional positiva é tanto um fenômeno social quanto um fenômeno individual: é social na medida em que resulta de relacionamentos e é pessoal na medida em que é experimentada como um sentimento.

Pergunte-se: Quando eu interajo com essa pessoa, o que acontece com minha energia? Ou seja, até que ponto estou entusiasmado, elevado e edificado quando interajo com essa pessoa? 

Fonte – Positively Energizing Leadership – Kim Cameron

Como identificar quem energizava a rede ajudou a destravar processos de inovação:

Imagine o seguinte cenário, uma equipe multidisciplinar responsável pela inovação em uma indústria. Estavam a 2 anos sem conseguir lançar novos produtos, não por falta de capacidade técnica, nem de recursos, a questão tinha mais relação com clareza de papéis e problemas de colaboração no grupo.

Nós apoiamos na redefinição de papéis e estrutura do grupo de inovação. Porém para garantir a boa colaboração do grupo foi fundamental encontrar quem se comportava como energizador positivo na rede.

Algo muito interessante é que os critérios de escolha não foram influência, extroversão ou o grau de motivação da pessoa, e sim o quanto cultivava relações construtivas com todas as áreas envolvidas no grupo de inovação.

Essa ponte teve uma contribuição importante para que o grupo conseguisse colaborar melhor, e lançar 12 produtos novos em menos de um ano.

 Um detalhe importante é que essa pessoa não tinha um cargo de alta liderança, e a pesquisa de Kim Cameron indica que essa energia relacional não tem nada a ver com hierarquia.

A posição de uma pessoa na rede de energia positiva é significativamente mais importante na previsão de desempenho do que a posição de uma pessoa na rede de informação ou influência.

Os energizadores positivos impactam o desempenho daqueles com quem eles interagem.

Fonte: Kim Cameron

A probabilidade de esta correlação ocorrer por acaso é inferior a 1 em 1.000

Algumas perguntas para entender se estamos diante de alguém gera essa energia relacional- positiva.

- Eu me sinto revigorado quando interajo com esta pessoa.

- Depois de interagir com esta pessoa, sinto mais energia para fazer meu trabalho.

- Sinto mais vitalidade quando interajo com esta pessoa.

- Eu me aproximaria desta pessoa quando preciso me animar.

- Depois de uma troca com esta pessoa, sinto mais energia para fazer meu trabalho.

E finalmente cabe uma reflexão, como líder estou promovendo este tipo de energia nos relacionamentos com meu time, estou estimulando colegas e pessoas que se manifestem dessa forma?